terça-feira, 21 de agosto de 2012
Aos meus mortos
Cara, eu me acordei nessa cama nesse quarto branco e tudo que já vivi foram sonhos. Como se não tivesse nada, sabe? Tudo o que já vivi, romances, desejos, desesperos, promessas, esperanças, todos os momentos com pessoas que me fizeram rir e sorrir, que abracei e beijei e confiei, pessoas com que me senti seguro e crente de que me completavam; pessoas que eram fieis e irmãos que estavam sempre ali, que me ensinavam algo do que viviam e sempre estiveram comigo e até me importei; pessoas que eu procurava sempre que presenciava algo que me causasse qualquer sensação, pessoas com que compartilhei algumas ambições e até critiquei e ouvi reclamações, pessoas que eram pra sempre, sumiram. Morreram. Todos desapareceram. Aquele amor que era tudo o que eu precisava, morreu. Ganhou outra vida. Aquele amigo que era meu irmão desde a infância e que seria meu irmão até a velhice, morreu. Ganhou outra vida. Aquela melhor amiga que seria pra sempre a melhor amiga, que era quem me censurava e me conhecia tão bem e mesmo com os constrangimentos que eu causava tava sempre ali, morreu. Ganhou outra vida. Assim, estão todos mortos.
Eu poderia citar muitas outras pessoas, todas mortas. Todos meus irmãos, amigos e amores morreram. Trágico, não? Sim, pra mim é horrível, foram vários mundos desabando. Mas pra todos eles, não. Foram suicídios. Nenhuma tentativa de continuar uma vida comigo ali, apenas abdicaram disso. Disso. De mim.
E eu assisti isso. Eu chorei, o que é compreensível em um luto. Mas não foi um grande luto, foram vários pequenos lutos, e o sofrimento contínuo rasga a carne e distorce a alma. Eu deveria derramar uma lágrima por uma pessoa que escolheu me apagar? Não. Por nenhuma pessoa assim. Nem a que sempre esteve presente, nem a que esteve quando mais precisei. Mas a minha alma já estragou, seca ou não.
Aí percebi que o sofrimento não foi pelas pessoas, foi por mim mesmo. Eu fui a criatura digna de dó de mim mesmo por tanta fraqueza em acreditar que precisa de alguém. Os lutos foram pequenos, é a prova de que essas pessoas não importavam realmente, mas o sofrimento continua porque é insuportável a presença dessa única pessoa desgraçada que continuou sempre presente assistindo tantas mortes... eu. O luto é por mim mesmo.
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Esperava isso. Tu tens um blog. E se coloca muito bem, se expressa de tal forma que até me vejo aí... Nessas palavras. Pois então moço intrigante que acompanho pelo facebook... Nesse luto eterno, nessa luta inacabavel dentro de nós, contra nós mesmo... Liberta. E cansa. Cansa porque a vida é esse clichê, clichê que se dissolve nessa fraude.
ResponderExcluirBom ler esse teu desabafo. Tô pelo celular, mas depois volto para segui-lo.